Recomendo fazer a leitura pelo desktop ou pelo aplicativo com um chá, café ou chocolate.
Ontem, depois de ter conseguido finalizar todos os itens da minha lista de afazeres, aproveitei que ainda teria algumas horas de luz natural entrando pela janela da sala escolhi um livro para me fazer companhia.
O escolhido foi “The Letters of Vicent van Gogh” na edição da Penguin Classics (no final do texto colocarei links para edições brasileiras semelhantes a essa). Preparei meu chá (earl grey), separei um muffin de baunilha com gotas de chocolate, acendi duas velas e coloquei uma playlist para tocar baixinho no fundo. Tudo isso ficou ainda mais aconchegante com a luz difusa do dia nublado que entrava pela janela.
Caso alguém queira seguir/ouvir essa playlist, é só clicar aqui: a very jazz autumn
Dias nublados, frios e chuvosos definitivamente são os meus favoritos para recarregar minha energia e me inspirar. Agora voltando ao livro…
Logo que comecei a ler, senti que esse é um livro que quero que seja minha companhia por muito tempo. Apesar dessa edição ter um pouco mais de 500 páginas, minha vontade é de fazer ele durar como se tivesse mais de 1000.
Já nas primeiras cartas encontrei passagens que me tocaram e me deixaram pensativa. Me senti conectada e, de certa forma, acolhida. Em uma carta de janeiro de 1874 sobre arte, Vincent escreveu ao seu irmão “Admire as much as you can, most people don't admire enough” [tradução livre: “aprecie o máximo que puder. a maioria das pessoas não aprecia o suficiente."]. Um pouco mais abaixo, completou “Do go on doing a lot of walking and keep up your love of nature (…). Painters understand nature and love her and teach us to see” [tradução livre: “Continue andando bastante e mantenha seu amor pela natureza (…). Os pintores entendem e amam a natureza e nos ensinam a enxergar"].
Como disse ali em cima, esses conselhos foram escritos em 1874 e foi impossível não pensar em como esse conselho é ainda mais difícil e valioso nos dias de hoje. Não é a primeira vez que reclamo aqui sobre o ritmo acelerado do mundo e sei que toda oportunidade que tiver de pontuar e questionar isso, farei. Às vezes parece que estamos em um momento sem volta, mas realmente acredito que podemos conseguir desacelerar, mesmo que seja um pouquinho, a nossa rotina.
Uma das formas de fazer isso é encontrar algo que nos inspira e estar realmente presente e sem pressa para consumir (seja um livro, uma série, um curso etc.). Esse é um livro que “facilmente” devoraria, mas não quero. Quero ler com calma, marcar, me conectar, pesquisar sobre os artistas, obras, livros e músicas que são mencionados…enfim, é um livro que quero que me faça companhia por meses e até mesmo anos.
Como uma pessoa que trabalha com produção de conteúdo literário, confesso que me sinto um pouco culpada e muito preocupada por ver o quanto algumas pessoas se cobram para ler e finalizar muitos livros para alcançar metas de ler x livros por mês ou y livros por ano.
Entendo que há livros e livros. Que alguns são mais para relaxar e outros demandam um pouco mais do leitor, mas minha preocupação é que nessa correria e pressão para alcançar as metas impostas, a pessoa deixe passar momentos de conexão e inspiração. Que a leitura se torne uma atividade mecânica e focada somente em números.
Bom, esse texto foi um desabafo e um convite para não termos medo de ler devagar, de reler passagens que nos tocaram, de respeitar nosso ritmo e de tentar parar para apreciar mais a natureza ao nosso redor. Espero que tenha feito algum sentido.
Edições em português semelhantes a essa da Penguin Classics:
Cartas a Theo publicada por Editora 34
Cartas a Theo: rebeldes e maldito publicada por L&PM em 2021
Cartas a Theo publicada pela L&PM publicado em 1997 (disponível no prime reading)
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oi, mel! nossa, compartilho muito dessa estafa de ver as coisas aceleradas num ritmo tão adoecedor. o último livro que li devagar, saboreando, foi "a escrita como faca e outros textos", da annie ernaux. fiz questão de ler, no máximo, 5 páginas por dia do livro e ir degustando cada palavra, cada reflexão. sinto falta de livros e autories que me pegam desse jeito. eu tenho um vínculo emocional com o van gogh bem intenso, sou apaixonada pela arte dele e, pelo pouco que sei de sua vida pessoal, também me sinto um pouco conectada, sabe? obrigada pelo incentivo de me fazer ir atrás de livros sobre ele! sinto que é um tipo de literatura que tenho procurado fazer no momento e você resgatou esse meu desejo <3
O meu interesse por artes começou por conta dessas cartas hahaha no colégio, minha antiga professora de artes fez uma “parceria” com a de “português”.. era um Projeto para recriamos obras do Van Gogh.mas eu sempre fui pessima nos trabalhos manuais e me desanimei.. minha dupla ficou com a pintura e eu com as cartas e eu amavaaaa quando ela lia pra gente 🤎